sábado, 3 de janeiro de 2015

Middlemarch, George Eliot


Título: Middlemarch: um estudo da vida provinciana
Título Original: Middlemarch, a Study of Provincial Life
Escritora: George Eliot (Mary Ann Evans)
Ano de Publicação: 1871-1872 (Inglaterra)
Editora: Record
Páginas: 877


Escrito por George Eliot entre os anos de 1869 e 1871, quando a Inglaterra já estava na Era Vitoriana, a história de Middlemarch ocorre entre os anos de 1829 e 1832 da Era Georgiana. Essa distância histórica permitiu a George Eliot escrever um livro que retrata com uma assombrosa riqueza de detalhes o turbulento final da Era Georgiana na Inglaterra, o que faz com que muitos afirmem que Middlemarch é o melhor romance inglês de todos os tempos.  

Middlemarch segue a história de diversos personagens, pertencentes a diferentes classes sociais e com diferentes personalidades. Acompanhamos Lydgate, um médico que tenta revolucionar a medicina da época, mas que enfrenta grande resistência; Dorothea, uma mulher inteligente e idealista que deseja mais do tudo utilizar sua educação em prol daqueles que mais necessitam; Fred, um garotão mimado e esbanjador que vai aprender a importância do autocontrole para uma vida feliz; Rosamond, a mulher que preenche todos os requisitos da educação feminina inglesa, mas que peca por sua futilidade e por seu egoísmo; e acompanhamos ainda um desfile de personagens que simbolizam as diferentes classes sociais da época: um banqueiro, um acadêmico, párocos, fazendeiros, comerciantes, estudantes e esposas.

Middlemarch é ora narrado por uma perspectiva micro e ora narrado por um perspectiva macro. Assim, se em alguns momentos Eliot explora as revoltas decorrentes da Revolução Industrial, em outros momentos ela narra o dia-a-dia da esposa de um comerciante. Nesse sentido Middlemarch é um livro bastante ambicioso, já que busca retratar as diversas nuances da vida durante a Era Georgiana, sob suas diversas perspectivas. A narradora da história, extremamente crítica e irônica, por vezes tece comentários acerca dos personagens e das situações, sendo ela a responsável pelos momentos cômicos do livro. É com aparente seriedade que a narradora faz seus comentários espirituosos:
A observadores superficiais seu queixo se mostrava algo evanescente, dando a impressão de ter sido gradualmente reabsorvido. O que de fato lhe causava certa dificuldade para encaixar a gravata de cetim muita alta, finalidade à qual os queixos eram úteis na época (p. 292).
Mr. Borthrop Trumbull na realidade não sabia nada sobre o testamento do velho Featherstone; mas dificilmente seria levado a declarar sua ignorância, a menos que fosse preso por crime de omissão (p. 336).
Dentre os principais temas macro explorados por Eliot em Middlemarch temos: as diversas tentativas de uma reforma política e eleitoral na Inglaterra, que só veio a se concretizar em 1832; a resistência popular, principalmente no ambiente rural, à industrialização crescente, o que resultou em movimentos de quebra de máquinas e em revoltas contra a expansão das linhas de trem; as injustiças geradas pelo sistema sucessório da época, que obrigava jovens a seguir a carreira religiosa em troca de uma profissão e uma propriedade; as limitações da educação imposta às mulheres, que as tornava boas esposas e mães às custas de sua própria felicidade e aspirações pessoais.  

Todos os personagens enfrentam sua própria via crucis em busca do crescimento pessoal e da felicidade. Para Eliot, é justamente a ingenuidade e a falta de autoconhecimento que impedem uma vida calma e boa. Como acompanhamos as histórias desses personagens ao longo de anos, não nos surpreende nem um pouco seus desfechos, que parecem ter sido moldados e esculpidos por eles próprios. Afinal, depois de quase 900 páginas, é quase impossível que o leitor não sinta que conhece muito bem cada um dos personagens criados com perfeição por Eliot. 

A obsessão de Eliot pelos detalhes sem dúvida rendeu frutos. Middlemarch não é um livro fácil e nem é um livro para todos justamente porque exige muita paciência e atenção. A princípio não compreendemos porque Eliot insiste em narrar tantas diferentes vidas, algumas aparentemente sem importância, mas aos poucos percebemos que ela está retratando toda uma vida em sociedade, com todos os seus elos e encadeações. No final somos presenteados com um visão do todo, em que cada pequena parte, por mais desinteressante que possa parecer, tem sua função:
(. . .) o bem crescente do mundo depende em parte de atos não históricos; e se as coisas não estão tão mal, nem com você nem comigo, como poderiam estar, isto se deve em grande parte ao número dos que fielmente viveram uma vida oculta, e repousam em túmulos não visitados.
Middlemarch é um livro de leitura difícil e lenta, seja por conta de seus muitos personagens, seja por conta de sua linguagem ou seja por conta de seus temas poucos familiares, mas a experiência é sem dúvida enriquecedora e engrandecedora. Para mim foram oito meses de uma leitura repleta de altos e baixos, mas foram oito meses que se eu pudesse voltar no tempo não mudaria.

Vídeo no YouTube:







4 comentários:

  1. Oi, Eduarda! Finalmente você terminou Middlemarch, estava ansiosa por sua resenha, já vi o vídeo também.
    Eu quero muito ler esse livro, mas no momento vou ficar esperando sair outra edição, sem pressa. ;-)
    Beijão e feliz ano novo!

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    1. Quando será que sai outra edição, Lua? Eu, para ser sincera, nem gosto muito da que eu tenho, apesar de ser a única que eu conheço. O livro é muito grande e a lombada não suporta o peso. Resultado: folhas soltas. É irritante ler desse jeito...
      Beijo!

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    2. Vende para mim então, u.u
      Brincadeira. ^-^ comprou por onde?

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  2. Boa tarde Eduarda estou a procura de um livro e estou em duvidas se é o mesmo que vc leu em 2015. Procuro por o livro "A vida era assim em Middlemarch" e vc leu o Middlemarch: um estudo da vida provinciana, ambos são o mesmo livro? grato

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