sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O Jogo do Anjo, Carlos Ruiz Zafón


O Cemitério dos Livros Esquecidos #2
Título: O Jogo do Anjo
Título Original: El Juego del Ángel
Escritor: Carlos Ruiz Zafón
Ano de Publicação: 2008
Editora: Objetiva (selo Suma de Letras)
Páginas: 416

O Jogo do Anjo é o segundo livro da trilogia do Cemitério dos Livros Esquecidos, que teve início com A Sombra do Vento (resenha aqui) e foi finalizada com O Prisioneiro do Céu. Crononologicamente, contudo, a história de O Jogo do Anjo, que se passa nos anos 20, é anterior à de A Sombra do Vento, que se passa nos anos 50. Apesar de os três livros formarem uma trilogia, suas histórias são independentes e podem ser lidas em qualquer ordem. O que elas têm em comum é a ambientação em Barcelona e alguns elementos que se cruzam, a exemplo da biblioteca chamada O Cemitério dos Livros Esquecidos, da Livraria Sempere e Filhos e de alguns personagens.

O Jogo do Anjo (clique aqui para ver o vídeo no YouTube) conta a história de David Martín, um escritor doente, pobre e infeliz que recebe uma proposta irrecusável de um editor francês chamado Andreas Corelli. Em troca da astronômica quantia de 100.00 francos e da recuperação de sua saúde, David, apesar de ser completamente cético, aceita escrever uma história capaz de embasar uma religião, uma espécie de segunda bíblia. Quando David começa a questionar o propósito de tal livro e a investigar a identidade de seu patrão, vê-se envolto em uma rede de mistérios, que vai desde suicídios mal explicados até a possível existência de bruxaria.

O Jogo do Anjo é um livro que prende a atenção do leitor. A leitura flui de forma prazerosa e rápida e a linguagem de Zafón faz com que formemos uma imagem mental de todas as cenas do livro. Acompanhamos a história de David Martín desde a infãncia até a idade adulta e sofremos e sorrimos junto com ele (mais sofremos do que sorrimos, é bem verdade). David é um personagem extremamente sarcástico e, até mesmo nos piores e mais absurdos momentos de sua vida, consegue encarar as coisas de uma forma bem humorada. E além de David há Isabella, sua assistente, que é a minha personagem favorita do livro. A dinâmica entre esses dois personagens proporciona os momentos mais interessantes, divertidos e tocantes do livro. Assim como acontece em A Sombra do Vento, Barcelona é um personagem à parte e seu clima vai mudando conforme as emoções de David.

Apesar de eu ter gostado muito de O Jogo do Anjo, A Sombra do Vento continua sendo o meu preferido. E isso porque o Jogo do Anjo não tem um ritmo tão bom quanto o do seu predecessor. Os primeiros dois terços do livro tem por foco a desilusão, a pobreza e a desesperança de David Martín e há uma constante aura de suspense e mistério. Já a investigação propriamente dita é guardada para o último terço do livro, o que torna a conclusão um pouco apressada. Acompanhamos um David Martín que, enquanto é freneticamente perseguido pela polícia, visita inúmeros lugares em Barcelona e vai montando as peças do quebra-cabeças. Quando tudo o que eu queria era que os mistérios fossem finalmente resolvidos, Zafón descreve pormenorizadamente todos os locais que em David Martín passa! Com A Sombra do Vento isso não acontece porque a investigação ocorre ao longo de todo o livro e é com calma que vamos entendendo toda a história. Aqui o ritmo acelera tanto no desfecho que tive ruminar o final por algumas horas.    

O Jogo do Anjo transita entre a realidade e a fantasia, entre o factual e o sobrenatural. Ao contrário de A Sombra do Vento, aqui não encontramos respostas prontas ao final do livro, o que gera bastante angústia. O que fica é a dúvida: até que ponto essa história é real e até que ponto tudo aconteceu na imaginação de David? E, afinal, quem é esse anjo e qual o seu jogo? A sensação que o final do livro provoca no leitor é a mesma que o diretor David Lynch gera com seus filmes enigmáticos. Enquanto Lynch explora a fronteira entre os sonhos e a realidade, Zafón questiona o que separa o real do imaginado, a história do fato. O Jogo de Anjo nos confunde com sua metalinguagem, já que David Martín, descrito como um escritor extremamente competente e capaz, está narrando para nós a sua história, o que nos leva a questionar até que ponto estamos sendo manipulados enquanto leitores. E ainda assim, em última instância, estamos lendo um livro de Zafón, mesmo que se diga escrito por David Martín. O grande questionamento que Zafón levanta com O Jogo do Anjo é o que torna uma história real. Uma história só é real quando é baseada em fatos reais ou ela é real simplesmente porque existe dentro da imaginação de alguém? E é justamente aí que reside a beleza do livro.       

Curiosidade. Quando escrevi a resenha de A Sombra do Vento, comentei que O Cemitério dos Livros Esquecidos me lembrou o Labirinto de Creta, mesmo com a ausência do Minotauro. Qual não foi a minha surpresa quando descobri que esse Minotauro existe na forma misteriosa de um fantasma encapuzado que faz com que os frequentadores da biblioteca percam-se para sempre em seus inúmeros corredores ; ) 

Nota no skoob: 4 de 5.

Vídeo no youtube:

2 comentários:

  1. Oi Eduarda, gostei muito de A sombra do vento e quero ler O jogo do anjo ainda esse semestre. Gostei bastante da resenha. Confesso que fiquei um pouco decepcionada pela história não ser mais com Daniel. rs. Mas estou ansiosa para ler depois de ler e ver vc falando sobre o livro. Não encontrei uma forma de seguir, mas assinei por email. Beijos!
    www.viagensesquiaofrenicasalua.blogspot.com.br

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    1. Mas Martín também é legal... ; )
      E dizem que Daniel volta em "O Prisioneiro do Céu".

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